Basta um olhar torto do chefe, da amiga ou até de um desconhecido na
fila do cinema para os piores pensamentos virem à tona: “Ele me odeia”,
“O que será que fiz de errado dessa vez?”, “Está achando minha roupa
cafona”... Muita gente pena, calada, com a mania de perseguição. Ela
pode ser interpretada como uma necessidade inconsciente de ser o centro
das atenções –a pessoa que acredita que os outros estão prestando
atenção nela, no fundo, se sente isolada e sozinha e anseia camuflar uma
grande timidez. Mas não é uma regra.
"Quem acha que o tempo todo é vigiado, em geral, é inseguro, possui
baixa autoestima e não tem autoconfiança”, diz a psicóloga Cecília
Zylberstajn, de São Paulo, que explica que todos nós temos uma
consciência que nos aponta como o outro nos percebe. Quem tem mania de
perseguição, porém, conta com essa percepção distorcida e leva tudo para
o lado pessoal, sem considerar o contexto. É o caso de alguém que passa
perto de um grupo em que todo mundo está rindo e, imediatamente, se
coloca como alvo de chacota.
A intensidade com que a mania de perseguição acontece varia de
indivíduo para indivíduo, mas sempre causa angústia e mal-estar. Quando
exagerada, prejudica, e muito, a vida social, pois a reclusão é a
solução para evitar o público, já que há um medo terrível de ser alvo de
comentários negativos, recriminação, desaprovação ou risadas. “A pessoa
passa a achar que o mundo conspira contra ela e desconfia de todos”,
diz a psicóloga Marina Vasconcellos, que lembra que o comportamento pode
estar associado ao estresse pós-traumático -depois de ser vítima de um
assalto, por exemplo.
Na maior parte das vezes, a vítima não se dá conta de que apresenta a
mania de perseguição –está tão imersa na certeza absoluta de que os
outros não param de prestar atenção nela, que não conseguem fazer uma
autoavaliação. Os especialistas avisam que, em exagero, o comportamento
pode se tornar patológico e ser sintoma de alguma doença psiquiátrica
mais séria, como o início de uma síndrome do pânico –caso que requer
tratamento com terapia e medicamentos.
Dicas para encarar o problema
Mas como diferenciar? Se algum episódio isolado desencadear alguma desconfiança –ver aquela colega venenosa conversando com outras pessoas e olhando para você com uma expressão irônica, por exemplo–, não há problema. Mas se você se sente o tempo todo observado, enganado, excluído, traído ou perseguido pode estar paranoico. Nos ambientes corporativos, em especial os muito competitivos, é comum a mania se manifestar, acompanhada de uma sensação de insegurança em relação ao emprego. É preciso pensar com frieza sobre o assunto, pois quem é vítima desse problema, frequentemente, não o percebe.
Mas como diferenciar? Se algum episódio isolado desencadear alguma desconfiança –ver aquela colega venenosa conversando com outras pessoas e olhando para você com uma expressão irônica, por exemplo–, não há problema. Mas se você se sente o tempo todo observado, enganado, excluído, traído ou perseguido pode estar paranoico. Nos ambientes corporativos, em especial os muito competitivos, é comum a mania se manifestar, acompanhada de uma sensação de insegurança em relação ao emprego. É preciso pensar com frieza sobre o assunto, pois quem é vítima desse problema, frequentemente, não o percebe.
“A mania de perseguição também costuma dar as caras em situações de
estresse, quando as pessoas estão com os nervos à flor da pele”, diz a
psicóloga Angélica Capelari, professora da Universidade Metodista de São
Paulo (Umesp). Nesses casos, o perfeccionismo e a intolerância com os
próprios defeitos fazem com que a pessoa veja no outro seu próprio
reflexo, o que a torna vítima do excesso de autocrítica.
Por mais difícil que seja, é possível combater o transtorno no dia a
dia. “O primeiro passo é questionar as próprias atitudes e assumir a
parcela de responsabilidade no relacionamento, pois toda relação tem
dois lados”, explica Cecília Zylberstajn. Um exemplo? Antes de julgar
que a cara feia do chefe é resultado de algo que você fez, pergunte-se
se realmente você fez algo tão grave que justifique tamanho mau humor.
Outra dica, dessa vez de Angélica Capelari, é aprender a controlar os
próprios pensamentos. “Quando achar que alguém está olhando torto em sua
direção ou criticando você, tente desviar a mente para outro assunto.
Não alimente algo que pode ser apenas uma impressão.”
Marina Vasconcellos prefere apostar no diálogo. “Se acredita que todo
mundo fala de você, divida essa impressão com as pessoas mais próximas.
Ouça a resposta e depois tire as próprias conclusões”. A especialista
também aconselha uma checagem direta. “Pergunte, com jeitinho, é claro,
se fulano estava falando de você. E, aí, com uma boa conversa, resolva o
que tiver de resolver.” Evitar que a dúvida continue a te corroer é,
definitivamente, a melhor estratégia.
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