Os
especialistas recomendam usar a água termal em jatos sobre o rosto pela
manhã e à noite, após tirar a maquiagem. Ela também pode ser usada
durante o dia, para refrescar a pele em dias muito secos ou quentes
Pode até parecer mais uma invencionice do mundo da beleza, que a cada
instante vêm com mais uma descoberta para estimular o consumo. Mas o uso
dermatológico de águas termais é de conhecimento milenar: a alta
concentração de sais minerais e de oligoelementos (microminerais) lhe
confere propriedades terapêuticas, tais como função regeneradora,
calmante, hidratante e, claro, refrescante – ainda mais para o verão
escaldante que vem por aí.
Diferentemente das europeias, as brasileiras começam a adquirir o
hábito usufruir das versões em sprays, cuja oferta cresce nas
prateleiras. “Anos atrás, água termal se restringia ao uso no
consultório para diminuir os incômodos dos pós-procedimentos estéticos
por causa de sua ação calmante”, conta o dermatologista Jardis Volpe.
“Hoje, ela foi parar nas casas e está se tornando mais um arsenal de
beleza, como parte da rotina de cuidados diários”.
Segundo Volpe, os componentes presentes na sua composição ajudam ainda a
recuperar a pele queimada, inclusive pelo sol, por causa da sua ação
cicatrizante. Por isso é indicada também para amenizar a irritação da
pós-depilação e pós-barba. Dermatologistas costumam recomendar água
termal em casos de pele sensível e de dermatites, como rosácea, eczemas e
psoríase.
Outra vantagem é a hidratação. A dermatologista Vivian Amaral explica
que, durante a transpiração, a pele perde, juntamente com o suor,
eletrólitos e minerais, como sódio, potássio e magnésio. “Borrifar água
termal sobre a superfície cutânea é uma maneira de repor água e minerais
eliminados”, orienta. “Por essa mesma razão, o produto pode ser
utilizado para hidratar a pele em situações de baixa umidade do ar, como
no inverno seco e em ambientes com ar condicionado”, diz.
A concentração de minerais ajuda a aliviar esses desconfortos, mas não
substitui os hidratantes protetores que impedem a evaporação excessiva
de água da pele, ressalta a dermatologista Ligia Kogos. Ela explica que
esse produto também adquire função protetora contra os efeitos nocivos
da poluição na pele, pois diluem as substâncias químicas que
temporariamente se depositam na superfície da pele, minimizando a
agressão na falta de tempo ou oportunidade de lavar o rosto.
As principais funções
As águas são classificadas de acordo com sua composição. E para cada característica, há uma indicação para um problema cutâneo; veja abaixo: |
Ferruginosas (ferro): alergias e acne juvenil |
Cloretadas sódicas (cloreto de sódio): aliviam pele irritada |
Sulfurosas (tipo de enxofre): doenças da pele |
Sulfatadas (tipo de enxofre): anti-inflamatório |
Cálcicas (cálcio): eczemas e dermatoses |
Silicatadas (sílica): anti-inflamatório e suavizante |
Alcalinas (Ph): hidratam a pele |
Ácidas (Ph): regularizam o Ph da pele |
Oligominerais: higienizam a pele |
FONTE: Comissão Permanente de Crenologia (estudo das águas minerais) |
“É uma espécie de ‘lava- rápido’ da face, que pode ser aplicado ao
longo do dia, mesmo sobre hidratante, filtro solar e maquiagem”, observa
Ligia. “Convém lembrar, no entanto, que a água termal poderá diminuir a
fixação de maquilagem que não seja à prova d’água, borrar pós, bases e
diluir filtros e hidratantes”.
Vários estudos mostram os benefícios à pele causados principalmente
pelos minerais que estão em maior quantidade na água, conferindo-lhe sua
classificação (veja quadro ao lado). O professor de cosmetologia
Maurício Pupo dá alguns exemplos: água termal rica em selênio e manganês
ajuda na prevenção do envelhecimento, pois é antioxidante e combate os
radicais livres. O magnésio tem maior ação calmante e ajuda a proteger a
pele das agressões externas.
O enxofre estimula a eliminação de células mortas e, portanto, está
associado ao rejuvenescimento, avisa Pupo. Já o silício estimula a
produção de colágeno, ajudando a preencher as linhas de expressão e a
dar mais firmeza à pele. “Mas é importante saber que os sais minerais
não penetram na pele”, afirma o especialista. “Sua ação é superficial,
agindo basicamente como hidratante por causa da sua capacidade de reter
água.”
Conhecimento secular
Vem da antiguidade o hábito de usufruir das propriedades curativas das
águas termais, pois era da natureza que a medicina se apropriava para
tratar diversos males. Leonardo da Vinci se banhava na famosa fonte de
Sirmione, que existe até hoje na Itália, para combater gota, doença que
afeta as articulações. Rica em enxofre, tem ação anti-inflamatória.
Dentre as muitas fontes termais que existem no país europeu, a Acqua di
Recoaro, na região do Veneto é considerada a mais curativa. Não à toa é
vista como milagrosa. Um decreto criado no Império Romano considera
crime hediondo sua adulteração, conta cosmetólogo Maurício Pupo. “Por
ter combinação balanceada de sais minerais e gases, essa água é indicada
para o tratamento de todas as doenças porque promove equilíbrio das
funções corporais”, explica.
A França é outro país cujas águas termais são tradicionais. Lá estão as
cidades com importantes fontes que dão o nome às marcas Avène, La
Roche-Posay, Uriage e Vichy. Elas mantêm uma estação termal e utilizam a
água como matéria-prima de seus dermocosméticos.
No Brasil, a tradição do uso de águas termais para fins curativos é
incipiente. “Por isso, faltam investimentos para pesquisas”, afirma o
geólogo Fábio Lazzerini, vice-presidente da Organização Mundial de
Termalismo (OMTh). Em seu trabalho de doutorado, ele avaliou diversas
amostras do território nacional e revela que ao menos 30 cidades têm
potencial para se tornarem estância hidromineral.
A fonte de Águas de São Pedro, a 187 quilômetros de São Paulo, está
entre as mais poderosas do País. É considerada semelhante à água
italiana de Sirmione. Por ser uma das mais alcalinas e sulfurosas do
mundo, é indicada para o tipo de pele brasileira mais comum, a oleosa,
pois limpa intensamente e combate a oleosidade. Ainda no estado de São
Paulo, existe a fonte termal de Ibirá, a 410 quilômetros da capital.
Outra conhecida é a de Goiás, na cidade de Caldas Novas. Todas são
classificadas como medicinais.
Porém, a composição entre as águas não indica qual é melhor do que a
outra. “Cada fonte diferencia-se basicamente pela concentração de sais
minerais, gases dissolvidos, radioatividade, pH e o equilíbrio de tudo
isso”, explica Lazzerini. “E, para cada característica, existe uma
função terapêutica”, diz.
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