Após o escândalo do vazamento dos documentos confidenciais da Santa Sé,
o papa Bento 16 tinha a impressão de não ter mais pessoas de confiança
ao seu redor. Foi o que disse o número dois da Secretaria de Estado do
Vaticano, Angelo Becciu, ao jornal italiano "La Stampa" ao relembrar a gravidade do caso Vatileaks, que ganhou ainda mais notoriedade com o anúncio da renúncia do pontífice.
ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA
Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no conclave.
Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
"Foi o momento mais difícil, as pessoas ficaram chocadas e indignadas
com o vazamento que causou muita dor ao papa", afirmou ele.
Um relatório de 300 páginas encomendado pelo pontífice com o
detalhamento das investigações devem ser repassados aos cardeais antes
do conclave, que vai eleger o novo papa.
Apesar de o conteúdo do relatório ser secreto, o jornal "La Repubblica"
revelou que o documento descreve as lutas internas pelo poder e pelo
dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas em
fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano.
Sob o título "Não fornicarás, nem roubarás, os mandamentos violados no
relatório que sacudiu o Papa", o jornal italiano informou ainda que o
relatório relata a existência de uma "rede transversal unida pela
orientação sexual". "Pela primeira vez, a palavra homossexualidade foi
pronunciada no apartamento papal", afirma o jornal.
Durante oito meses, conforme o "La Repubblica", os cardeais
interrogaram diversos religiosos, dividindo-os por congregação e
nacionalidade, e estabeleceram que existem vários grupos de pressão
dentro do Vaticano, entre eles um sujeito a chantagem, a "impropriam
influenciam" por sua homossexualidade.
Outro grupo se especializava em montar e desmontar carreiras dentro da
hierarquia vaticana. Já o terceiro e último aproveitava para utilizar
recursos multimilionários para seus próprios interesses à sombra da
cúpula de São Pedro através do banco do Vaticano, de acordo com a
publicação.
O jornal chegou inclusive a relacionar a existência do documento com à
renuncia de Bento 16, que se convenceu de que um sucessor mais jovem,
forte e enérgico era o melhor indicado para fazer a limpeza na milenar
instituição.
A previsão é que Bento 16 encontre um espaço em sua agenda nos próximos
seis dias para se reunir com os cardeais para comunicá-los sobre o
conteúdo do relatório antes mesmo do conclave, que vai eleger o novo
papa. Ainda não se sabe quando a reunião de cardeais eleitores terá
início. Mas espera-se que o próximo pontífice seja conhecido até a
Páscoa, no final de março.
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